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os libertos filhos de Deus

Janeiro 14, 2013

Dizem que é tudo para glória de Deus, mas é a sua própria pança que engorda e o seu peito que incha com as coisas próprias das glórias dos homens. Arranjaram um país só para eles. Estão a um canto do mundo, mas ainda pensam que estão no centro. Consideram-se os peritos de Deus. Não se chamam a si mesmos os “donos de Deus”, ou das suas supostas verdades, nem aceitam quando alguém lhes diz que os vê assim, mas comportam-se como tal.

O que é mais estranho neles é dizerem-se tão de Deus e serem tão diferentes de Jesus! Adoram fardas que revelem a sua diferença em relação às pessoas vulgares e repetem galas cerimoniosas em que as possam vestir e mostrar. “Tudo para glória de Deus”, claro….

Quem olha com um bocadinho de atenção percebe rapidamente que aquela glória de Deus fica muito cara! E que interesse pode ter um “Deus” cuja glória se manifeste no cerimonial e não na Festa dos simples, na Alegria das pessoas livres, espontâneas, felizes e fraternas?! De que serve uma “glória” que só enche as medidas da vaidade de “Deus” mas nos deixa sempre nas nossas próprias misérias e o máximo que diz é que as aceitemos resignados?!

Com as suas fardas e os seus anéis, que só são bonitos lá no país deles, querem sempre ensinar aos outros a “tabuada de Deus”: o que Deus quer, do que Deus gosta, quem Deus é e onde está. Sabem os sítios onde Deus se encontra e as verdades em que é preciso crer para ser Seu Amigo. Mas não contam muito com Ele… Deus é, sobretudo, o “nome” que tutela e justifica o que são e o que fazem.

Houve um dia… Houve um dia em que o Vento soprou fortíssimo. Num repente, abriu todos os portões e escancarou todas as janelas daquele país… e, sem ninguém saber explicar, chegou num momento só uma multidão de homens e mulheres de todas as partes da terra. E entraram.

Uns cantavam, outros choravam, outros esperavam… havia de tudo! Entravam em pequenos grupos, atrás de alguém que lhes ia falando do Deus de Jesus e do Seu Reino de uma maneira muito especial. Eram muitos… e cada qual falava segundo a sua cultura, com o seu jeito próprio, segundo a história que testemunhavam os seus olhos, segundo as suas dores e esperanças…

Todos os habitantes fardados do país entraram em sobressalto. Nunca tinham visto nem ouvido nada assim. Lá no país deles nunca tinha nascido ninguém assim! Aliás, ninguém lá nascia… Os que lá viviam já tinham ido para lá adultos. Coitados… Era um país de adultos… Como podia ser assim tão de Deus – como eles diziam – um país sem a alegria e as traquinices das crianças?!

Saíram às praças do país e ouviram coisas novas. Nenhum se encantou…

Vendo e ouvindo tudo aquilo, reuniram-se de emergência, depois de terem vestido cuidadosamente a farda própria das reuniões de emergência e terem dado brilho aos anéis com que selavam as suas decisões. Discutiram, discutiram, discutiram…

Aquela gente trazida pelo Vento falava de uma maneira que punha em causa a maneira como viviam, os motivos pelos quais tinham inventado as fardas e as galas em que as exibiam, distorciam totalmente o sentido da glória de Deus fazendo-a coincidir “apenas” com a dignidade e a liberdade do Ser Humano.

No dia marcado, todos se juntaram para irem ter com Deus. Mas…

O que aconteceu foi que não O encontraram! Quando quiseram encontrar-se com Ele, aconteceu que não O encontraram nos sítios e nas verdades em que sempre tinham dito que Ele estava. Fez-se um daqueles silêncios…

Depois, num olhar cúmplice, perceberam que não poderiam nunca dizer isso a ninguém! E assim foi. Não o disseram a ninguém, até hoje, nem dirão, porque sabem que tudo ruiria. Este é o segredo mais bem guardado da gente que mora naquele país: não se encontraram com Deus nos sítios e nas verdades em que sempre disseram e continuam a dizer que Ele está.
(Rui Santiago, http://derrotarmontanhas.blogspot.pt/2008/09/era-uma-vez-no-pas-que-no-tinha-crianas.html)

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  1. Teixeira permalink
    Setembro 21, 2016 21:51

    Achei muito bom este artigo, quem foi que escreveu?

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